sexta-feira, 9 de agosto de 2013

ENTARDECER DO AMOR.

         O tempo passa em ritmos loucamente descompassados , ora galopando tal qual alazão em disparada correria pelo horizonte ora silencioso e lento tal qual uma prece .


       Era dia normal como todos são mas sentiu vontade de se debruçar na janela e apenas espiar a vida passando por vezes colorida e saborosa , outras insossa , inodora e incolor .

      Mas era vida que pulsava ainda que em ritmo lento e tinha que espiar dentro de si mesma para encontrar alguma explicação para uma saudadezinha que surgia sem saber de onde e por que razão .

     Não era saudade de nada e nem de ninguém , era saudade do que não viveu e que não podia explicar ... apenas sentia .

   Naquela tarde enquanto o sol se aninhava no colo da noite que chegava lentamente com o brilho delicado da lua e das estrelas , se deixou levar pelos pensamentos emaranhados tal qual cabelos ao vento e se sentou na abóbada da alma .

   Pode se reencontrar , se reinventar e rever bilhetes rabiscados em guardanapos , fotografias já amareladas pelo tempo , pétalas secas guardadas em páginas de poesias que foram o mote de um amor ... já esquecido, guardado em compartimentos íntimos da alma que naquele momento recordou antigos sons e trouxe á margem das lembranças cheiros , gostos e sensações com tons e nuances que sequer se lembrava.

    Não sabe ao certo quanto tempo depois , despertou do sonho que sonhou acordada , fechou as duas janelas , a da alma e a da sala .

   Se deixou ficar em inerte silêncio deitada , enquanto desfazia as malas da viagem que acabara de fazer .

  O embrulho que quase conseguiu materializar entre os dedos , trazia uma única e quase absoluta certeza : o amor verdadeiro não morre , apenas entardece .

          OBS: Texto publicado no www.recantodasletras.com.br/autores/marciabarcelos.

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